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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal !!!!!

O ano passou num piscar de olhos.
Penso em todas as conquistas e nas tantas que estão por vir.
É a luta diária, a esperança num mundo melhor e o enorme desejo de contribuir com esse novo mundo que nos espera que me dão forças para enfrentar minhas dificuldades pessoais e compartilhar com vocês a certeza de que alcançaremos a tão esperada cidadania negada a nós brasileir@s.

Desejo a tod@s um Natal de paz!

Aqui publico alguns dos muitos cartões belíssimos criados pelo grupo "Todos conta a homofobia, a lesbofobia e a transfobia" . Enviem a seus amigos, imprimam, aproveitem!

Um abraço apertado em tod@s vocês!













sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Homonormatividade. Porque gay também é limpinho

Não, não é heteronormatividade, você não leu errado no título, é homonormatividade mesmo. Não é uma questão de se portar de um jeito a ser aceito pelos heterossexuais, mas o fato de que muitos gays sabem exatamente como todos os outros deveriam ser e se comportar. Impressiona a fórmula pronta, a estética fechada, a educação universal. Gay tem que ser viado, bicha nunca. Lésbica sim, sapatão jamais. Viado é jovem, atlético ou, no mínimo, com o corpo bem cuidado – em forma, pois viado que se preze sempre frequenta academia. Viado é educado, não usa palavras de baixo calão, não fala baixaria, não faz saliências em local público, não beija a boca de vários, não é promíscuo. Viado não tem voz fina, não tem trejeitos, não é caricato, não é espalhafatoso, não é chegado a bizarrices. E em bizarrices encontramos de tudo: ser “afeminado”, vestir-se de mulher, por seios, por silicone, pintar unhas, usar maquiagem, gostar de salto alto, ser transgênero e tudo o mais que fuja à imagem de um homem gay “equilibrado”. E o mesmo para as lésbicas. Lésbica também é pura feminilidade, não é como um sapatão. Sapatão parece homem, não cuida das unhas nem do cabelo, não usa saia nem vestido, é agressiva, não é delicada como uma mulher. Fala com voz grossa, anda de um jeito pesado, é uma figura caricata. E o que dizer quando é trans? Gente que retira ou põe seios e pênis. Tudo muito estranho.


Mas deveria existir um padrão de comportamento gay? E quem não se enquadrasse, deveria ser considerado inadequado? Ora, em todos os grupos sociais, existe todo tipo de pessoa. Por que com gays deveria ser diferente? Isso é mais uma pecha jogada em nossos ombros que não nos cabe. Esse é mais um discurso opressor que devemos tomar cuidado para não internalizar. Quem nos oprime é que usa isso: essa moral única, essa normatividade, estes tais valores que são ditos e tratados como se fossem universais: isso pode, aquilo não, pode agir assim, daquele outro jeito não, pode se vestir assim, daquela forma, não. Considero muitíssimo lamentável esses julgamentos sobre o jeito "do outro", quando a própria pessoa não tem controle sobre seu próprio gestual. Ela apenas é o que é - nos gestos, no modo de andar, na voz, no jeito de falar etc. e, com certeza absoluta, seus modos e suas falas são absolutamente reprováveis por outros - também se enquadram em um estereótipo. Todos nós nos enquadramos. E todos somos achincalhados por outro grupo social, ainda que não saibamos. Mas quando é conosco, queremos que compreendam que é apenas o que somos. Então, por que quando é com o outro quero que ele se "endireite"? Este não é o justamente o discurso de quem nos oprime? Defender ideias conservadoras e moralistas, ditando um padrão de comportamento idealizado, serve apenas para promover a exclusão de quem não se enquadra. E o que nós sofremos com a heteronormatividade senão exigências, pressões e desqualificações para que vivamos limitados a determinadas regras de conduta social? Um moralismo tosco que estigmatiza e marginaliza, sem respeitar diferenças? Então, excluídos que somos também seremos agentes de exclusão? E de nossos próprios pares? Eu tento não ser, pois, afinal, não é por diversidade que lutamos? Pelo respeito às diferenças?

Quem considera se esta ou aquela postura ou linguagem é chula são os conservadores, os moralistas, que dizem o que é certo ou errado, como as pessoas devem ou não se comportar, como se houvesse uma moral única, imutável e unânime, inclusive, são os mesmos que não reconhecem travestis e transexuais, o que dizem as razões para que tais pessoas não devessem existir. Portanto, sim, é reprodução do discurso opressor, mas frente a outro grupo. E devemos tomar muito cuidado para não assimilarmos o discurso opressor nem resquícios dele, pois chulo mesmo é ser preconceituoso quando se é alvo de preconceitos. Chula é a linguagem que exclui, que estigmatiza, que rotula, que aparta. Chulos são os gestos de exclusão, de agressão. Escandalosos são os crimes cometidos contra nós. Escandalosas são as agressões que sofremos e nossas cidadanias diminuídas. Escandaloso é ter nossos direitos usurpados. Chulos e escandalosamente imorais são aqueles que querem nos manter invisíveis e à margem da sociedade que cotidianamente também ajudamos a construir e manter, nos relegando a ter somente todos os deveres, mas não todos os direitos. O restante é diversidade. Apenas diversidade. A questão é saber olhar e respeitar o diverso, ainda que não o compreendamos, assim como queremos que nos vejam e nos respeitem. 

Texto de autoria de Ivone Pita, publicado em  http://politicaativa.gay1.com.br 

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terça-feira, 22 de novembro de 2011

ESTADO LAICO URGENTE!!!!









PEC99, projeto de emenda à Constituição do deputado João Campos (PSDB/GO) pretende discriminar minorias de crença ao dar o privilégio de propor ações de constitucionalidade ou inconstitucionalidade a associações religiosas. Muitas crenças no Brasil são descentralizadas e não têm interesse em serem reconhecidas pelo Estado na forma de associação. As circunstâncias em que esta proposta se dá denunciam as intenções do deputado e os assinantes da proposta: impor sua versão de cristianismo particular a todos os cidadãos brasileiros, negando direitos que esta vertente quer negar a parte da população. É um assalto ao artigo 19 da Constituição. Se os correligionários de João Campos respeitam a Constituição, por que pretendem mudá-la para interferir na estrutura de poder? Nós, irmãos na discordância, felizes de compartilhar um Estado laico, que não subvenciona nem atrapalha religiões, dizemos não.



sábado, 8 de outubro de 2011

Horrores do nazismo

Milhares morreram nas mãos de médicos em experiências destinadas a localizar o “gene gay” de forma a encontrar “cura” para as futuras crianças arianas homossexuais


Em 1º de outubro de 1944, a primeira de duas séries de experiências médicas envolvendo castração sãolevadas a cabo em homossexuais no campo de concentração de Buchenwald, perto da cidade de Weimar, Alemanha. Buchenwald foi um dos primeiros campos de concentração instalados pelo regime nazista. Construído em 1937, foi um complemento aos campos do norte, Sachsenhausen, e sul, Dachau, e foi erguido para nele se utilizar o trabalho escravo nas fábricas de munição locais, 24 horas por dia em turnos de 12 horas.





Embora tecnicamente não fosse um campo de extermínio, pois lá não havia câmaras de gás, não obstante eram comuns centenas de prisioneiros morrerem por desnutrição, doenças, maus tratos e execuções. Na verdade era uma câmara de horrores, onde experiências médicas dos tipos mais cruéis eram realizadas com prisioneiros contra sua vontade. As vítimas eram amiúde e intencionalmente injetadas com diversas infecções a fim de se testar vacinas. 
A eutanásia era também praticada regularmente contra prisioneiros judeus, homossexuais, ciganos e doentes mentais. Durante o holocausto, a perseguição aos homossexuais continuou. Muitos foram enviados para campos de concentração, obrigados a portar o triângulo rosa como identificação. As estimativas sobre o número de homossexuais mortos nos campos varia muito, entre 5 e 15 mil. Os números mais elevados incluem gays que eram judeus e/ou comunistas. Hitler acreditava que a homossexualidade era um comportamento degenerativo que ameaçava a capacidade do Estado e o caráter masculino da nação.
Os gays eram denunciados como “inimigos do Estado” e acusados de “corromper” a moral pública e ameaçar o crescimento populacional alemão. Líderes nazis, como Himmler, consideravam também que os homossexuais eram uma raça à parte e promoveram experiências médicas em que tentavam encontrar alguma deficiência hereditária que julgavam ser a causa da homossexualidade. 
Muitos morreram nas mãos de médicos em experiências destinadas a localizar o “gene gay” de forma a encontrar “cura” para as futuras crianças arianas homossexuais. Enquanto muitos defendiam que os homossexuais deviam ser exterminados, outros pretendiam que a legislação banisse sexo entre homens ou entre mulheres.
Os tratamentos aos gays nos campos de concentração eram excessivamente cruéis. Além de serem agredidos por guardas, eram perseguidos muitas vezes também por outros prisioneiros. Sob a política do Arbeit macht frei (O trabalho faz a liberdade) nos campos de trabalhos forçados, recebiam regularmente os trabalhos mais pesados ou perigosos. Os soldados da SS utilizavam muitas vezes o triângulo rosa como alvo para prática de tiro. Esse tratamento cruel pode ser atribuído tanto às opiniões dos guardas da SS como às atitudes homofóbicas generalizadas na sociedade alemã da época.  
A marginalização dos gays na Alemanha refletia-se nos campos de concentração. Muitos foram espancados até a morte por outros prisioneiros. Seu sofrimento não terminou com o fim da guerra, uma vez que as leis anti-homossexuais dos nazis não foram revogadas, como aconteceu com as leis anti-semitas. Alguns homossexuais foram obrigados a completar a pena a que estavam condenados pelo Governo Militar Aliado do pós-guerra na Alemanha.


Publicado originalmente em http://www.pragmatismopolitico.com.br

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

2ª Conferência Estadual LGBT - Paraná

O Paraná vai criar um Conselho Estadual LGBT para tratar de políticas públicas relacionadas a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. O anúncio foi feito pelos secretários da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Maria Tereza Uille Gomes, e da Saúde, Michele Caputo Neto, durante a abertura da 2ª Conferência Estadual LGBT do Paraná, que começou nesta sexta-feira (7) e vai até sábado, em Curitiba. 






A conferência, que reúne cerca de 300 pessoas, debate o tema “Por um estado livre da pobreza e da discriminação: promovendo a cidadania LGBT”. As deliberações serão levadas à conferência nacional, que será realizada no dia 10 de novembro, em Brasília. 

A secretária da Justiça, que preside a conferência, disse que o conselho garantirá espaço de representação igualitária, contribuindo para que qualquer pessoa, independente de sua opção sexual ou credo, viva em liberdade num ambiente de fraterno e pacífico. 

O secretário Michele Caputo Neto disse que o movimento LGBT tem contribuído para estabelecer avanços na área da saúde e que a secretaria irá trabalhar para colocar em prática as deliberações definidas no encontro. 

“A primeira conferência LGBT fez recomendações para a área da saúde que não foram encaminhadas pelo gestor estadual. Isso não irá acontecer neste governo, porque trabalhamos de forma integrada com as demais secretarias e estamos comprometidos com a redução do preconceito e com a melhoria da qualidade de vida de toda população”, disse o secretário da Saúde. 

Caputo Neto anunciou que no primeiro orçamento do governo Beto Richa, o de 2012, o Paraná irá cumprir a emenda constitucional 29 e a secretaria terá R$ 340 milhões a mais para aplicar em programas exclusivos de promoção da saúde da população. 

A representante da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Dida Figueredo, informou que o governo federal prepara uma campanha nacional sobre o respeito à diversidade e contra a homofobia, que deverá ser veiculada ainda este ano. 

“A criminalização da homofobia é importante, mas também precisamos educar a sociedade contra o preconceito”, disse. Ela informou que o Disque 100, criado para receber denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes, foi ampliado para receber denúncias de violência contra LGBT. 

“A secretaria nacional vai utilizar os dados do disque 100 como diagnóstico para dimensionar o problema no país e para subsidiar o desenvolvimento de políticas públicas”, afirmou Dida. 

O ativista Toni Reis falou dos avanços do movimento, mas reivindicou que os políticos paranaenses trabalhem para aprovar leis de criminalização da homofobia. Ele também pediu que o governo federal a liberação do kit escolar anti-homofobia. 

Também falaram no evento os representantes do segmento lésbicas, Syrdara Mesquita; do segmento trans, Rafaelly Wiest; e do segmento bissexuais, Amauri Ferreira Lopes. 

O encontro que reúne 183 delegados, termina no sábado, com a votação de diretrizes e eleição dos delegados estaduais para a conferência nacional.





Publicado originalmente em Agência de notícias do Paraná

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Em Caso de Homofobia, Culpe a Vítima


Os gays provocam muito. Seja lésbica, viado, travesti ou transexual, a verdade é uma só: gays provocam demais. Riem alto demais, dançam demais, gostam de música demais, lançam moda demais, querem afeto demais, amar demais, trepar demais, serem felizes demais! Eles querem até os mesmos direitos que heterossexuais! Onde já se viu tamanha afronta! Este gays querem ficar por aí, andando, amando e constituindo família livremente e não entendem como isso é provocador? Será que não entendem como isso é um ataque frontal à verdade absoluta da heterossexualidade como única existência possível e saudável? Será que não percebem que assim ficam forçando a barra para saírem da marginalidade? Já não basta poderem trabalhar, estudar e andar pela rua, ainda querem se envolver em política? Ainda querem demonstrações públicas de afeto? Querem ser considerados como outra pessoa qualquer? Ora, todos sabem que assim, não é possível, assim, não pode ser.

Se uma pessoa mata um viado, certamente o viado tem sua parcela de culpa. Deve ter provocado, deve ter cantado o sujeito decente que o matou, deve ter lhe lançado um olhar abusado. Alguma coisa este viado deve ter feito. Com homens heterossexuais é diferente. Nenhuma mulher vai matar um cara somente por ele ter dado em cima dela, passado a mão pela cintura, puxado o cabelo, passado uma cantada daquelas ou ter lhe sussurado umas sacanagens gostosas. Claro que não, pois neste caso é normal. A mulher que agredir o homem é louca, claro, merece cadeia. O que tem levar só uma cantadinha ou uma agarradinha? Poxa, tem que ficar lisonjeada… Com viado, não, viado tem que saber o seu lugar, tem que ficar quieto. Que negócio é esse de me expor deste jeito? E se pensarem que o camarada que levou a cantada é viado também? Mulher não, se levar uma boa passada de braço pela cintura e lhe tacarmos um beijo roubado, poxa, é só um beijinho. Não acho que seja tratá-la como objeto, bom, só se for objeto do desejo e aí é uma coisa boa.
O cara tem 18 anos, vai para uma boate, beija na boca e vai logo para cama com um desconhecido, morre com uma facada e todos ficam com pena dele? Mas quem mandou levar o cara para casa? Coisa de viado burro. Com 50 anos? Aí então é coisa de viado carente. Sapatão? Aposto que estava na seca, aí achou outro sapatão doido que lhe enfiou uma faca. O viado que morreu era pobre? Então estava dando um golpe. Era rico? Então estava com um garoto de programa. Algum risco absurdo e desnecessário este viado correu sem necessidade alguma. Ah, se pegou na rua, então, poxa, quem mandou estar se prostituindo? Agora morreu de um jeito violento. Talvez se não se prostituisse, talvez se não levasse ninguém para sua casa, se não fosse para um motel, se não namorasse, se não trepasse, se não beijasse na boca, se não insistisse em ser feliz, se não fosse gay! Isso é o que dá esta necessidade de ficarem vivendo livremente e fazendo o que bem entendem como se fossem pessoas normais.
E quando é com “aquela mulher de saia curta e top que estava andando naquela rua, naquela hora” e foi estuprada? O que dizem algumas pessoas, senão que também a vítima não deveria estar vestida daquele jeito, nem naquele lugar, muito menos naquela hora? E eu fico pensando que quando é com um@ LGBT, ou com uma mulher, por exemplo, a vítima se não recebe toda a culpa, recebe parte dela. E quando é com um homem heterossexual, a culpa é somente do algoz. E fico me perguntando por que razão isso acontece. E as questões não cessam, pois o que leva algumas pessoas da própria comunidade LGBT ou algumas mulheres a insistirem em procurar e até defender a culpa da vítima? Por que razão coisas como irresponsabilidade, inconseqüência, falta de amor-próprio, carência e descontrole são sempre atribuídos a quem sofreu o crime e não a quem cometeu? Não estamos todos tentando apenas ser felizes? Não estamos todos apenas tentando viver da melhor maneira possível? Pense bem, quando você fica sabendo de um caso de assassinato ou outra forma de violência, envolvendo uma mulher ou um@ LGBT, como você olha para esta história? O que você deduz e a partir do que? Você tem informações suficientes sobre a vida dos envolvidos? Sobre o envolvimento de ambos? E ainda que você acredite ter boas informações sobre tudo isso, estará certo do que realmente houve? Mais do que isso: qual é a sua interpretação dos fatos? Sob que prisma você analisa o ocorrido? Será que não há resquícios dos discursos homofóbicos a que somos submetidos todos os dias? Será que não se absorve parte da postura de nossos próprios algozes? E quando é um caso de violência entre heterossexuais, qual é a reação da imprensa, dos colunistas e de nós mesmos? Pense sobre isso, pois não se trata apenas de mim, de você e de nossas ações, mas do discurso inferiorizante que nos infligem a todo o momento e que não podemos de forma alguma reproduzir, pois de nada adianta lutarmos e irmos às ruas por orgulho, respeito e dignidade se carregarmos nossos algozes dentro de nós. Temos que romper estas amarras!
Autoria de Ivone Pita.
Publicado originalmente em http://www.gay1.com.br/

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Majorie March : imprescindível!!!


Palestra brilhante, emocionante e essencial,  proferida por Majorie March no Seminário Psicologia e Diversidade Sexual: Desafios para uma sociedade de direitos



"Atualmente, estou presidente da Associação de Travestis e Transexuais do  Estado do Rio de Janeiro, vice-presidente da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais e vice-presidente do Conselho Estadual LGBT do Rio de Janeiro.
Eu acho que é muito importante falar de travestilidade num espaço como esse. É muito importante porque em alguns momentos nós escutamos muito falar de homofobia, homofobia, homofobia, homofobia, e a mim, como representante desses segmentos ainda tão sem voz, ainda me incomoda um pouco estar nesse pacote tão grande. Por que me incomoda um pouco estar nesse pacote tão grande?
Inicialmente, porque eu agradeço todo convite para eventos de diversidade sexual, apesar de toda tristeza de estar incluído, porque, como travesti e representante de travestis e transexuais, nós não somos uma questão de discussão de diversidade sexual.
Nós somos uma questão que deveria ser tratada de diversidade de identidades. Eu sou, às vezes, muito criticada porque prego o movimento à desassociação da travestilidade, da transexualidade, da homossexualidade. São fatores diferenciados, com origens diferenciadas, com implicações sociais diferenciadas e que precisam de tratamento e entendimento diferenciados. Não se trata de privilégios ou preconceitos, mas sim da legitimidade do assunto que estamos tratando. Eu acredito que o painel do que nós ouvimos um pouco falar de  homofobia é muito triste, mas se projetarmos a homofobia como foi dita na escola, nos meios sociais, para os travestis transexuais, é uma situação confortável. Queria eu que as travestis pudessem sofrer homofobia no trabalho. Não, elas não estão empregadas. Queria que elas pudessem ser vítimas de bullying, mas, não, elas não podem estudar.
Então, a questão da “transfobia” se remete a outro tipo de preconceito, outro tipo de fundamento, não a rejeição sexual, a prática sexual, mas, sim, a rejeição a novas identidades, ao que nós estamos tratando como  tema da família, a rejeição à redefinição e à rediscussão do que é gênero.
Digo que o primeiro preconceito em que as travestis ou os meninos, quando dão indícios de travestilidade ou transexualidade, são vítimas, é a misoginia. Algumas pessoas acham que misoginia é aversão à mulher.
Eu  acredito que misoginia é aversão ao gênero feminino, haja vista que todos os homossexuais, quando são crianças e são reprimidos... qual é a primeira ofensa e repressão que nós sofremos? “Pare de chorar. Você está igual a uma mulherzinha”. Isso deixa bem claro onde está a origem do preconceito. Antes do meu preconceito por ser travesti ou da minha identidade com a possível homossexualidade – na infância nós ainda não detectamos bem – eu sou vítima de misoginia, eu sou a personificação do desprezo com que a mulher é vista em sociedade. Eu não falo isso com felicidade; é com muita tristeza, porque sou enxergada como homem, a classe dominante, vencedora.
O meu pior preconceito por ser travesti é “Você renunciou a ser homem para se tornar uma mulher? Para viver como uma mulher?” E o mais triste ainda é, às vezes, a gente ver que a mulher retribui esse preconceito contra as travestis que é fundamentado no ódio a sua própria figura. A mulher despreza “Não é mulher de verdade”, e a discussão não é essa.
Na campanha do 29 de janeiro do ano passado, nós tivemos dois tipos de materiais e foram quatro dias para pensar em um slogan para a campanha. Ao final de muita discussão, muito quebra-pau – como é peculiar nas nossas reuniões de diretoria para se chegar a um veredicto –, o que venceu, adequado de várias formas, acho que foi muito legal e foi muito bom de ver sua aceitação. O tema era “Mulher de verdade respeita os travestis”. Eram dois materiais diferentes. O do homem era “Respeitar os travestis e transexuais não te faz menos homem. Te faz mais humano”. Na da mulher vinha em cima a frase “A união entre mulheres e travestis findará com todo machismo e opressão ao gênero feminino”.
Entendo que a primeira consciência que mulheres heterossexuais ou mulheres adequadas biologicamente, travestis, transexuais têm de ter é um entendimento do respeito ao feminino, do respeito ao gênero, para aí, a partir daí, nós pensarmos em discutir machismo. Enquanto não apararmos as arestas do nosso gênero, da nossa fragilidade, eu acho que vai ficar muito difícil nós conseguirmos implementar uma discussão real contra o machismo, contra a opressão, contra a desvalorização do gênero feminino.
A questão da travestilidade também é muito importante ser discutida nesse espaço, porque uma das minhas grandes preocupações é –quando os serviços de psicólogos são acessados por pais e mães ainda em conflito, buscando orientação – com uma orientação errônea que pode ter consequências catastróficas, como as que a associação vem acompanhando há alguns anos.
Eu me lembro que a minha travestilidade começou muito cedo. Aos doze anos eu já era um travesti completo, com modificações corporais, vindo de uma família inter-racial, intercultural e intersocial, porque era tudo dividido 50%, era muita cultura e muito recurso para uma parte, nenhum recurso e nenhuma cultura para a outra. Isso somado a todos os agravantes que uma relação inter-racial causa no Brasil, que nós fingimos que não, mas não é comum, não é normal. As pessoas não enxergam dessa forma. Isso foi muito complicado porque gerou um racha na minha família. A tática de uma parte foi procurar uma explicação clínica, uma explicação patológica para aquele fenômeno familiar, a outra me rejeitou por se tratar de uma “sem-vergonhice” social.
O que me preocupa hoje, avaliando que a busca por auxílio profissional não foi das melhores e que se eu não tivesse tido, entre tantas das sortes que eu graças a Deus tive na vida, o pai que eu tive, isso teria tido consequências bem piores, que impossibilitariam hoje de eu estar aqui, de eu ter tido a vida profissional que eu tive e que tenho, de poder ocupar os espaços e ser uma agente multiplicadora de oportunidades para os meus segmentos, porque é muito difícil a população brasileira se sentir representada por sujeitos que realmente vivenciam aquela realidade.
Geralmente, é alguém que acumulou saber, que teve essa oportunidade, que se aproxima dessa causa e dela vira o grande parceiro, e são muito poucas as populações que sofreram, que vieram lá de baixo e que tem na sua representatividade todo o acúmulo vivencial junto com o acúmulo técnico e teórico. E hoje as travestis no estado do Rio de Janeiro, nós conseguimos chegar a esse nível de excelência. Nós deixamos de ser objeto de estudo e passamos a ser sujeitos. “Não, nós não estamos numa sala para que a universidade venha nos estudar e publicar como vivemos, como comemos”. Não. Nós queremos, sim, com a universidade, uma parceria em que o saber acadêmico, casado com o saber vivencial, possa produzir ou ajudar a produzir subsídios que gerem qualidade de vida para as pessoas.
Vejo no William Peres uma grande e qualificada atuação de um personagem acadêmico – no respeito, na responsabilidade da produção acadêmica feita com as travestis transexuais. E eu quero mais exemplos, eu quero mais Williams Peres saindo. Eu brinco lá no Rio e falo que tem muita gente ganhando título de doutor com lixo acadêmico. Travestilidade e transexualidade são temas ainda muito pouco explorados, em que até a banca examinadora tem pouquíssima experiência do que sejam. Então, se você começar a falar muito e usar alguns termos “eu vou te dar nota 10 porque eu acho tão fantástico, nossa você conseguiu chegar perto deles e não foi mordido? Então, merece 10. Sei que você está falando e eu não entendo nada”. E aí quando eu vou a alguns lugares em que tenho a possibilidade de estar em algumas aulas inaugurais do curso de Psicologia, oportunidade como o professor Pedro Paulo já me deu,  assim como algumas universidades, as pessoas estão armadas e me descrevem “Olha, você e isso e aquilo, você age assim”, e você leva aquele choque. “É sim. Olha quem foi que disse, ele é renomado”. E aí aqueles estudos de alguns meses, de alguns anos, se sobrepõem aos meus 35 anos de vida. Não é assim.
Então, o que nós procuramos é a qualificação, é a parceria, porque eu acredito que ninguém vai modificar o mundo sozinho. Nós precisamos de várias frentes, só que para isso necessitamos: primeiro, da compreensão do movimento, da necessidade, do apoio acadêmico para legitimação dos seus dados, para computar seus dados, para centralizá-los; mas nós precisamos também da humildade acadêmica de respeitar o saber vivencial. Nenhum estudo de mestrado, doutorado que exista vai se sobrepor aos meus 30 de vivência, 24 horas por dia. Por mais que se tenha estudado um grupo grande de travestis durante todas as teses, não dá para  se comparar com o grupo de travestis com que eu convivi durante toda a minha vida. Então, eu acho que só a junção desses dois saberes nos possibilitará formar bons profissionais que consigam dar orientações com vistas à qualidade daquela família. Porque o que me preocupa aqui no Brasil, por exemplo, quando nós falamos de menor de idade, é o que as pessoas têm de entendimento de proteção ao menor.
Nós vamos falar de identidade, de respeito à identidade do menor de idade que tem a sua identidade, tem o seu gênero constituído, sim. As pessoas ainda hoje, quando eu falo do porquê da dissociação com a homossexualidade dizem: “Ninguém resolve com quem vai fazer sexo menor de idade”. E eu retruco: “Gente, eu, como travesti, posso ir até assexuado; eu não estou falando de com quem eu vou fazer sexo, eu estou falando de como a pessoa se identifica com o mundo”.
Eu agora estou estudando, até para poder falar, porque algumas pessoas têm me pedido sobre isso, sobre a transição da operação de readequação genital com menores de idade que está acontecendo em alguns países.
Ainda não tenho opinião formada porque acho que nós precisamos primeiro entender e depois transportar isso para a realidade brasileira. E o que inicialmente, assim muito por cima, me pareceu um pouco simples, eu sinto necessidade de estudar mais, porque achei um pouco simples demais e muito incoerente. Se eu diagnostico em você um pertencimento à identidade contrária ao seu sexo biológico e entendo que a solução para esse entrave é a cirurgia, para que vou esperar você chegar aos 18, 20 anos, com toda uma conformação física masculina consolidada, para aí sugerir uma intervenção cirúrgica médica? Porque não é só a questão da cirurgia, mas também da hormonioterapia, da feminilização facial, de todo um pacote sobre o qual não se fala. Fala-se da cirurgia, vagina, e parece que a questão é só essa. Não, é todo um pacote, e isso com uma pessoa com os caracteres masculinos já desenvolvidos, a qualidade dessa transformação não será a mesma, a proximidade com a aparência do gênero que essa pessoa deseja vai ficar muito distante.
Então, se realmente isso foi diagnosticado como um caso de uma mulher estar no biológico masculino, mas ser uma mulher, ou estar no biológico masculino e ser um homem, por que não a intervenção antes de a pessoa ter todos aqueles problemas pela modificação?
Eu sei que isso aqui seria visto como o cúmulo do absurdo, mas o que se está pensando realmente é na qualidade de vida da criança inicialmente, porque não se está pensando na moral do pai, na moral da sociedade que não pode ser tocada. Em proteção a essa falsa moral, crianças e mais crianças, pessoas e mais pessoas vão vivendo vidas infelizes, vão tendo suas infâncias suprimidas e roubadas porque não podem pensar como as outras crianças,  pensar em amenidades, em besteira, porque têm de ficar tentando resolver  seu conflito interno e a ele responder. Hoje, é muito simples para mim. Eu entendo que o problema não é comigo, o problema é dos outros e a doença está na cabeça dos outros. É muito simples, mas veja como isso é pesado, como isso é cruel para uma criança de seis, sete anos que reza toda noite, como eu rezava para que no dia seguinte eu acordasse normal, porque se todo mundo gostava de menina, todo mundo gostava de bola, só eu não, qual era o problema? Era eu, e isso para uma criança é muito cruel.
Até quando a sua travestilidade aflora e você liga o “dane-se”. Você vai embora e quer ver gente, isso para mim é vital como respirar. Eu sei que eu vou pagar todos esses preços, eu sei que vou assinar esse contrato de abrir mão de todos os meus sonhos e direitos, mas não dá para viver sem ser assim.
Então, essa emergência, esse entendimento de que essas pessoas têm um gênero definido, têm um gênero próprio, que não é um modismo, que não é festa Por exemplo quando eu falo que não me comparem a uma “Drag Queen”, mas falam “Mas você é desfeminina”. Não me compare porque daí vira uma manifestação artística e eu não sou uma manifestação artística, não transito em gêneros. Está certo, quando eu vou para casa eu tiro a maquiagem, porque tem muito barro aqui para tirar, mas não diferente da Ângela Bismark. Eu desmonto o meu personagem feminino e fico numa “vibe” mais simples dentro do meu outro personagem feminino, que é a dona de casa, a esposa, e já não é a figura pública. É um desmontar, um transitar entre gêneros. Obviamente, eu digo que travesti não é homem e travesti não é mulher. Travesti é travesti. Travesti é uma identidade única, formulada dentro de uma criação masculina, somada, em determinado momento, a uma criação feminina.  Algumas coisas são particulares aos travestis, a nossa facilidade em pôr o nosso desejo sexual em prática, nós sermos aquelas mulheres que caçam, que buscam. Nós temos essa nossa liberdade sexual, essa nossa permissividade que é peculiar. Isso é o encontro das águas do masculino com o feminino que cria uma identidade única. Quando vou pôr em prática a minha sexualidade, a minha vivência feminina, já existe toda uma estrutura psicológica formulada no masculino sobre o que eu posso, o que eu não posso, sobre o que eu me permito e o que eu não me permito, e isso cria uma identidade única. A partir desse entendimento de identidade única, os formandos, os pais têm de ser orientados para que conheçam seus filhos, os respeitem e entendam e se entendam, achando o melhor caminho dentro desse fenômeno. Não você tratar, como eu vi uma vez num programa, o programa Márcia, que tinha um psicólogo cuidando de alguns casos de homossexualidade. , Acho super interessante você ver esses programas porque é a possibilidade de ver como o povão que não está nem aí, que se presta, que se posiciona e o que pensa, é um grande termômetro. E havia o psicólogo, um homossexual e uma travesti. Para a mãe do homossexual, o psicólogo  falava que ela tinha que entender, que ele trabalhava, que ele era um cara normal; para a família da travesti, ele simplesmente disse: “Se você fosse homossexual, disso você não teria culpa, mas ser travesti... Olha a que você está expondo a sua mãe”.
Então, há dois pesos e duas medidas totalmente diferentes. Se existe o entendimento de uma pessoa não ser homofóbica, não quer dizer que a pessoa não seja transfóbica, porque há muita gente que adora o homossexual, principalmente o gay de estimação. “Ah, eu tenho um amigo gay. Ele vai sempre lá em casa. Só não pode levar namorado, se tiver uma festa ele não pode beijar e tudo, mas eu adoro ele, ele é gente finíssima. É, eu me dou com gays, não discrimino não, eu o cumprimento na padaria, sou super legal”. Existe esse gay de estimação, ou até  outro tipo de gay de quem eu gosto também: “Ah, meu amigo é gay, o William é gay, mas ele nem parece, eu gosto assim, bem discreto. Ele e o casinho dele: você pensa que é sobrinho, ninguém nem percebe”.
Agora uma travesti não, nem com esse falso posicionamento ela vai ser aceita. Hoje em dia, é muito cruel, não ver você, não ver uma mulher adequada como Beth. Vocês adentram, então, pela porta do preconceito social, que é o que há de maior. Ah! a travesti é outra mulher adequada, mas a outra é psicóloga, outra é gestora no Rio,
Então, enquadra-se melhor ela do que uma pessoa que não seja transexual, também é feinha, não seja arrumada como a gente, não seja a nossa altura. É por isso que nós entramos. É muito triste o que a gente discute na reunião. E falam: ah mas você tem um destaque, você frequenta alguns lugares tristes. Triste é eu ter de vir aqui, o meu destaque, a minha posição social é para dizer que eu tenho menos direito, que socialmente eu sou menos, que socialmente as pessoas não me aceitam, ter o tempo todo de solicitar parcerias para garantir o que todo mundo tem. Que coisa triste! Eu preferia realmente gastar meu tempo fazendo fofoca, ver um programa da Sonia Abrão ou, então, bater papo no MSN, coisas que eu gostaria de fazer, mas não me sobra tempo. Então, o que a gente veio buscar com essa fala foi simplesmente aproximar as travestis transexuais de todos vocês, como  apenas uma vertente do gênero feminino, gênero feminino em que a protagonista é a mulher, mas travestis e transexuais vêm provar que gênero é desassociado de genitália."

sábado, 23 de julho de 2011

Casais Gays Oficializam União






Uma enorme vitória da cidadania contra o preconceito!

Um dia para não esquecer !!!!

Não paro de cantar a canção da Zélia Duncan! hahahaha


Imorais - Zélia Duncan

Os imorais
Falam de nós
Do nosso gosto
Nosso encontro
Da nossa voz

Os imorais
se chocam
por nós
Por nosso brilho
Nosso estilo
Nossos lençóis

Mas um dia, eu sei
A casa cai
E então
A moral da história
Vai estar sempre na glória
De fazermos o que nos satisfaz

Os imorais
Falam de nós
Do nosso gosto
Nosso encontro
Da nossa voz

Os imorais
sorriram pra nós
Fingiram trégua
Fizeram média
Venderam paz

Mas um dia, eu sei
A casa cai
E então
A moral da história
Vai estar sempre na glória
De fazermos o que nos satisfaz

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Conselho Federal de Psicologia - Nome Social de Transexuais e Travestis


O Conselho Federal de Psicologia decidiu que os profissionais da psicologia transexuais ou travestis podem usar o nome social na carteira de identidade profissional, bem como em documentos como relatórios e laudos. A partir da publicação da Resolução CFP n° 14/11 no Diário Oficial da União, que ocorreu na sexta-feira, 24 de junho de 2011, os interessados deverão solicitar por escrito, aos seus Conselhos Regionais, a inclusão do nome social. Ele será adicionado no campo de observações do registro profissional.
Com a Resolução, fica permitida a assinatura nos documentos resultantes do trabalho da(o) psicóloga(o) ou nos instrumentos de sua divulgação o uso do nome social, juntamente com o nome e o número de registro do profissional.
A decisão representa um reconhecimento da igualdade de direitos destes profissionais e um respeito pela maneira como são identificados, reconhecidos e denominados por sua comunidade e em suas relações sociais.
Vários psicólogos já haviam pedido a troca de nome aos conselhos regionais, mas, como não havia diretrizes sobre o assunto, os requerimentos foram negados. O conselheiro do CFP, Celso Tondin explica: “Não havia regulamentação específica sobre o tema, isso provocou o Sistema Conselhos a fazer essa discussão, o que também atende a uma reivindicação histórica dos movimentos sociais”.
Publicado originalmente em http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/